Sexóloga Laura Muller |
O problema não para por aí, e só aumenta, com a chegada da adolescência e da iniciação sexual, entre os 15 e 17 anos, em média.
Para esclarecer assuntos ainda considerados tabus e ajudar os mais
velhos a falar sobre sexo e sexualidade com crianças e adolescentes, a
sexóloga Laura Muller, que participa do programa Altas Horas, na Globo,
escreveu seu quarto livro, "Educação sexual em 8 lições", que será
lançado no dia 18 em São Paulo.
"Me baseei em ações e palestras que fiz para pais e professores. Eles
reclamavam de que não havia uma bibliografia clara e simples, e não
conseguiam lidar com o tema. A maior dificuldade é falar: as pessoas têm
medo de que uma conversa estimule o sexo, ou receio de dizer algo
errado. Mas ninguém tem todas as respostas", destaca a especialista, que
reconhece que também não sabe tudo.
Segundo Laura, o mais importante é apresentar limites e possibilidades
aos mais jovens. Quando uma criança de até 5 anos, por exemplo, pergunta
de onde veio, como entrou na barriga da mãe ou se os pais namoram
pelados, o casal deve explicar o que se passa, usando a linguagem
infantil e deixando claro que essas coisas pertencem ao mundo dos
adultos e farão parte da vida dos filhos no futuro.
Quarto livro de Laura Muller (Foto: Divulgação)
"O mais importante é não ter medo de lidar com o tema, não é fácil
mesmo. Nós, adultos, não tivemos educação sexual na adolescência, por
isso é preciso buscar informações de qualidade onde for possível,
atualizar-se e não ter vergonha de ultrapassar essa barreira", diz a
autora.
Dúvidas ao longo do tempo
A sexóloga explica que, na primeira infância, as perguntas sobre sexo costumam ser "O que é?", "Como é feito?" e outras curiosidades simples, ainda bastante distantes da prática.
A sexóloga explica que, na primeira infância, as perguntas sobre sexo costumam ser "O que é?", "Como é feito?" e outras curiosidades simples, ainda bastante distantes da prática.
Até os 5 anos, os pais se preocupam mais se as crianças estão tocando
as partes íntimas, e se fazem isso na frente dos outros, afirma Laura. O
importante, nesse caso, é explicar para o menor que isso não pode ser
feito o tempo todo, que ele está na fase de brincar e se divertir,
acrescenta a especialista.
"A partir do momento em que a criança se aproxima da adolescência,
surgem questões mais elaboradas, sobre as mudanças do corpo, sobre como
se faz sexo, como usar camisinha, como evitar a gravidez e doenças
sexualmente transmissíveis (DST), além de dúvidas sobre masturbação,
desejo, excitação, sexo oral ou anal, e orgasmo", enumera Laura.
Com esse "empurrão" hormonal, vem também a primeira menstruação e a
primeira ejaculação espontânea. Em média, isso ocorre aos 12 anos, mas
entre 9 e 16 ainda é considerado um período normal.
De acordo com a sexóloga, os adolescentes em geral vivem quatro grandes
dilemas nessa difícil fase de transição: sexual (fazer ou não, e como),
profissional (qual carreira seguir), existencial (quem eu sou, do que
gosto e qual é o meu grupo) e tóxico (como lidar com álcool, cigarro e
drogas).
"A casa deve ser um complemento da escola, um porto seguro, e os pais
precisam estar abertos ao diálogo, apoiar uma educação sexual de
qualidade, conversar sobre prática, prazer, afeto e diversidade", aponta
Laura.
Os limites, segundo a sexóloga, vão até o ponto em que algo não fere a
pessoa e seu parceiro tanto física quanto emocionalmente. Além disso,
não se deve fazer nada só para agradar ao outro, nem se sentir
pressionado pelo companheiro ou por colegas.
"O jovem vai estar pronto para o sexo quando estiver bem informado e
amadurecido. É preciso se perguntar: 'Estou pronto? Quero mesmo?'",
ressalta.
E não deve haver nenhuma distinção de ensinamentos para meninos e meninas, segundo Laura.
"Às vezes, as pessoas acham que é preciso criar diferente, mas a
educação deve ocorrer da mesma forma. O que difere são as fases de cada
um, cada gênero vai ter um grau de amadurecimento conforme a experiência
de vida e outros fatores, mas as dúvidas são muito parecidas", diz.
8 lições
O livro é dividido em oito capítulos, cada um com uma lição diferente. O primeiro aborda os conceitos de sexo, sexualidade e outras definições básicas.
O livro é dividido em oito capítulos, cada um com uma lição diferente. O primeiro aborda os conceitos de sexo, sexualidade e outras definições básicas.
"Sexo é diferente de sexualidade. Sexo é o ato em si, já sexualidade é o
jeito de cada um ser no mundo, homem ou mulher, de se relacionar com as
emoções, os sentimentos e o mundo ao redor. O sexo é apenas um aspecto
da sexualidade – que existe desde a infância", compara a autora.
Laura explica, ainda, que há um terceiro conceito, o de gênero, que é a
identidade sexual de cada pessoa, um conjunto de jeitos de ser que pode
depender ou não do sexo com o qual se nasce.
"Precisamos de uma flexibilização desses significados, dos papéis, e
refletir o que realmente é da mulher e do homem, com tolerância e
múltiplas possibilidades", acredita.
O segundo capítulo do livro, por sua vez, é destinado à história da
sexualidade humana, pois o que vivemos, destaca Laura, é fruto de uma
série de questões culturais, de repressão sexual (principalmente
feminina), do surgimento da Aids e da emancipação da mulher. Com essa
retrospectiva, é possível entender como o ser humano chegou até aqui e
por que o sexo ainda é um tabu.
Em seguida, vem um capítulo sobre o papel dos pais e professores na
educação sexual de crianças e adolescentes. Nos quatro capítulos
seguintes, do quarto ao sétimo, Laura divide as recomendações por faixa
etária: de 0 a 5 anos, de 6 a 11, de 12 a 14, e de 15 a 17.
O livro termina com uma seção que tem como objetivo fazer com que os adultos reflitam sobre a própria educação e vida sexuais.
"É preciso olhar para si antes de educar os outros, ver quais são seus
valores e crenças. Os adultos de hoje, por exemplo, não usavam redes
sociais quando eram adolescentes, então precisam entender um pouco mais
sobre o uso da internet nos relacionamentos, com quem os filhos falam, o
que publicam", afirma Laura.
Por outro lado, segundo a sexóloga, os jovens têm que compreender que o
sexo pertence ao mundo privado, e não ao público, razão pela qual deve
haver limites.
"Muitas vezes, não nos damos conta do quanto expomos coisas que precisam ficar na intimidade", enfatiza.
Laura, que já publicou dois livros com respostas para 500 perguntas
cada (o primeiro para homens e mulheres e o segundo para jovens,
educadores e pais) e um terceiro sobre as dúvidas que recebeu no Altas
Horas (para pessoas de 12 a 80 anos), planeja daqui para frente algo
mais reflexivo na área da sexualidade, destinado ao mundo adulto.
Ficha técnica
Livro: "Educação sexual em 8 lições"
Editora: Academia do Livro
Número de Páginas: 147
Preço: R$ 19,90
Livro: "Educação sexual em 8 lições"
Editora: Academia do Livro
Número de Páginas: 147
Preço: R$ 19,90
Fonte: Bem Estar
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